Isabella Vitória
Esperando o tempo passar
Acomodei-me nesta velha cadeira
Para ver das janelas
A tempestade cobrir a cidade inteira.
Eu sou a última casa...
Todas as outras já se foram.
Então eu suspiro mais uma vez
Torcendo para que a sincronia
Gire depressa aquele ponteiro colado a parede.
As linhas que se mantiveram
Por tanto tempo como um nó
Dentro de mim,
Alinharam-se como uma velha roupa
Capaz de me aquecer.
Ouço então a minha voz gargalhar
Quando ainda era uma serena criança.
Vejo minhas mãos cobertas de cicatrizes velhas,
Tão pequenas, capazes de segurar o mundo mais uma vez…
Não desta vez.
Acomodei-me nesta velha cadeira
Porque o vento sopra
Um fio de lembrança de tudo que fui,
Como se as minhas pernas
Não fossem levantar mais
Para escrever um último verso.
Não há nada que eu possa fazer.
Não posso salvar nem uma última flor,
Beber o meu café pela última vez,
E nem soprar de novo a vela do meu novo aniversário.
Então eu me balanço
Enquanto a flor morre,
O café esfria
E a vela se apaga.
Eu apenas danço nessa tempestade que cobre a cidade inteira
Esperando que ela me cubra também.