Roberio Motta

Repente

Nossa poesia

Nossos versos

Que nos afastam

Da precondia

 

Nosso repente que inda sente

Cheio de nostalgia

Nosso olho no olho

Enquanto um recita em harmonia

O outro pensa na construção

da outra estrofe que faz o solo da nova poesia

 

É o repente que de repente 

Nos faz lembrar do tudo

Do mundo

hoje mudo do que se foi

Das juras eternas do que não foi

Da carrapeta que não para de rodar

Do jogo de bila, do banho de chuva e do açude

Do tudo de outro mundo

onde o ser

Era muito mais que o ter

 

Enquanto o peito dói feito aperto

Os que “os zói” que hoje não mais se vê

Indo embora feito a lavadeira descontente

com a chegada da máquina

que hoje faz o espremer

 

E o todo do nosso mundo que de bom já se foi

fica encostado a rima do que não nina

e entristece o temer

enquanto o homem substituído

pela máquina sem coração

continua feito verso na rima da contramão

Entristecido com o inverso do que não sente

Não grita feito dormente

Com a porta quase fechada

O curral vazio

e a estrada nua que caminha

se apagando sob o manto da solidão.

Motta, R.

10 de três de 20eVintee4, JDO – Estado de Graça do Cariri.