Chico Lino

CHEIRO DE MEDO

CHEIRO DE MEDO
Chico Lino
                                  
Escravo da invenção
De que o trabalho enobrece

O voluntário servidor
É feliz encilhado
Tagarela de suas pantomimas

Abertas as perigosas
Cortinas passadas
Contemplamos assustados
A aquarela

Não a Aquarela de Ary Barroso,
Na sora voz de João Gilberto

Vemos em cada cômodo
Por entre a velha
Conhecida mobília
Surgirem tremulando
Numa escuridão expressionista
Fantasmagóricas lembranças  

O berro
O grito
O urro

O medo é uma pulsão
Que exala cheiro desagradável

Daí cachorro atacar
A quem os teme
Sensíveis ao mal cheiro
Do medo
Que agride seu faro

Agredidos
Somente humanos
Dão a outra face

Sempre soube
Que medo tinha cheiro

Não identificava
Até entender melhor
Sobre transmutação nuclear

Hiroshima
Nagasaki
Chernobyl

Alguma coisa no ar
Como ondas de rádio
Que a gente nunca vil