joaquim cesario de mello

QUANDO CHEGAR À MATURIDADE

 

Quando eu chegar à maturidade

vou deixar Nietzsche de lado

começar a ler Schopenhauer

não mais ouvir Pink Floyd, The Who

Led Zeppelin e The Velvet Underground

calçar sapato de couro com cadarço

colocar a camisa por dentro da calça

assumir encargos e responsabilidades

engolir sapos do patrão

para chegar à noite de mau humor

sentado na poltrona assistindo televisão

 

Quando eu chegar à maturidade

vou reclamar da inflação

dos preços do arroz, da carne

do pão, do tomate e do feijão

acordar de manhã mais cedo

para levar para passear o cão

tomar remédio para dormir

e no químico sono profundo

sonhar com mais nada não

 

Quando eu chegar à maturidade

vou me queixar dos políticos

protestar contra o judiciário

acompanhar as notas dos obituários

mudar as roupas do vestiário

apanhar empréstimo consignado

dividir minhas férias no crediário

endividar metade da minha renda

e beber Campari bem gelado

me bronzeando com protetor solar 50

à beira da praia qualquer de um balneário

 

Quando eu chegar à maturidade

vai então acabar essa minha jovialidade

vou ficar com cara sisuda de homem sério

passando as tardes de domingo com tédio

preocupado em como irei pagar as contas

e aí vou entrar na igreja mais próxima

para entoar um réquiem aos anjos

que povoavam o céu acriançado da infância

 

Quando eu chegar à maturidade

                       quero estar lá não