Quando eu chegar à maturidade
vou deixar Nietzsche de lado
começar a ler Schopenhauer
não mais ouvir Pink Floyd, The Who
Led Zeppelin e The Velvet Underground
calçar sapato de couro com cadarço
colocar a camisa por dentro da calça
assumir encargos e responsabilidades
engolir sapos do patrão
para chegar à noite de mau humor
sentado na poltrona assistindo televisão
Quando eu chegar à maturidade
vou reclamar da inflação
dos preços do arroz, da carne
do pão, do tomate e do feijão
acordar de manhã mais cedo
para levar para passear o cão
tomar remédio para dormir
e no químico sono profundo
sonhar com mais nada não
Quando eu chegar à maturidade
vou me queixar dos políticos
protestar contra o judiciário
acompanhar as notas dos obituários
mudar as roupas do vestiário
apanhar empréstimo consignado
dividir minhas férias no crediário
endividar metade da minha renda
e beber Campari bem gelado
me bronzeando com protetor solar 50
à beira da praia qualquer de um balneário
Quando eu chegar à maturidade
vai então acabar essa minha jovialidade
vou ficar com cara sisuda de homem sério
passando as tardes de domingo com tédio
preocupado em como irei pagar as contas
e aí vou entrar na igreja mais próxima
para entoar um réquiem aos anjos
que povoavam o céu acriançado da infância
Quando eu chegar à maturidade
quero estar lá não