Doloroso

O teu palácio (os meus escombros)

Her skin is like velvet

So I went to her home

Her place like a palace

With things you can\'t own

(Lauren Savoy/Magne Furuholmen/Morten Harket/Pal Waaktaar)

 

The dogs lay at your feet, Edie

Oh, we caressed you cheek

Oh, stars wrapped in your hair, Edie

Life without a care

But your not there

(Ian Robert Astbury / William Duffy / William Henry Duffy)

 

Circundei os muros do teu palácio de outrora…

Parecia um túmulo 

Vazio de ti.

Parecia um ninho esquecido,

Cujo pássaro abandonou sem olhar pra trás… 

Como uma casa de boneca,

Mas não estavas lá…

As bonecas de tua infância,

Talvez aos pedaços em algum quintal,

Tal qual os pedaços de meus sentimentos…

Talvez conservadas em bolor e poeira em algum armário, 

Tal qual tu pensas em mim:

Uma representação mofada e empoeirada, esquecida em tua mente,

Se um dia pensaste em mim…

Não brincas mais de boneca…

As fantasias que tua mente e teu corpo materializam 

Em lascivos divertimentos 

Emparedam-me em inocência, pecado e morte…

Das janelas fechadas e das abertas esquecidas,

Partem interrogações buscando por ti.

Quando foi a última vez que, sob as orações maternas,

Adormeceste acalentando teus sonhos pérfidos,

Tua vingança contra quem nunca te fez mal?

Eu vi a cadeira vazia…

Eu vi os braços da tristeza envolver a atmosfera

Como uma serpente de mil cabeças abraça o corpo sem vida de sua vítima.

Eu me vi perdido e inconsolado dentro de teus muros,

E nem estavas lá para mandar matar teu prisioneiro.

Eu não vi teus olhos;

Não vi teus cabelos negros como as trevas de teu paradeiro 

Emoldurados em festa que faziam teu olhar faiscar…

Eu vi a sombra do passado para sempre passado,

Sepultada sob os anos que não vivi,

Sobre os quais ergueste teu império. 

Eu vi tua majestade na ausência,

Reinando absoluta em tudo que havia…

Eu te vi criança; vi a primavera desabrochar em tua vida

E o mortal sol de verão que tornaste.

Emudeci ouvindo teus murmúrios e juras.

Tuas palavras amaldiçoaram-me para sempre

Num feitiço de correntes inquebrantáveis

E negras do mais puro desconsolo…

Tomaste as rédeas de tua vida

E eu encontrei o caminho para me perder. 

Eu revi a saudosa estrada…

Sinuosa via dolorosa onde eu buscava vida;

Cenário que me enchia os olhos

E esvaziava-me de forças e esperanças…

Na manhã quente de estio contemplei o verde do cerrado

E embebedei-me da beleza das montanhas! 

O ar estava puro como a atmosfera do teu banho;

A visão cristalina como tuas lágrimas de alegria das conquistas…

As aves se atiravam no vazio do vale

Como um dia me lancei em teus mistérios,

Verdadeiro abismo infinito onde me consumi

Em queda livre de paixão e desejo; 

Desengano e amargura…

Errando por aquele caminho, protegido por Deus,

Cercado por rastejante e ruminantes e pela morte que já me possuía, 

Amaldiçoei o mundo e suas criaturas;

Conjurei o demônio, dei-me em troca do mal e da desgraça. 

E eles vieram…

Que saudade daqueles tempos! 

Estavas já perdida para mim,

Mas eras como a poça d\'água refletindo o esplendor do céu…

Mesmo no lodo mais imundo,

Espelhando a mais bela e perfeita visão!... 

É consumada a impossibilidade de nossa união

Ainda que num mísero relance…

Estás dispersa como as moléculas do ar,

Incontáveis, infinitas, incalculáveis;

Partículas de veneno intoxicando-me a existência…

Ensinaste a indiferença ao aço das horas,

À violência do martelo,

À delicadeza do riacho

Aos pássaros que atravessam o espaço…

E me vi extinto num mundo 

Onde pulsa tudo o que representas;

No qual estás em toda parte

E em nenhuma delas jamais estarei.

Da morte, andando ao meu lado, não senti medo. 

Tenho medo de ti, viva,

Respirando e andando com passos firmes e seguros;

Da tua vida fulgurante, intensa e bela

E que por detrás arrasta o infinito precipício 

Da minha queda sem fim.