VĂȘnus

Se eu fosse...

Se eu fosse uma música, meu caro amigo, eu não seria uma triste canção sobre jovens falidos e deprimidos. Minha melodia seria bela e tranquila, com solos de guitarra, piano e violão. 

Minha letra não diria que a vida é bela ou que tudo ficará bem, mas diria que o amor nos magoa da forma mais linda e cruel. 

Seria sobre aquela sensação de sentir o sangue quente, correndo dentro de nossas veias, a sensação de não saber o que dizer ao ver alguém que lhe rouba as palavras, quando preferimos sorrir, simplesmente sorrir e sentir a vida nos tocar como uma brisa fresca num dia quente de verão. Seria sobre superar os desafios que vão além do corpo e da alma, quando a gente se sente no limite, quando se acredita que está prestes a morrer, não de forma dolorosa e triste, mas sim de forma intensa e prazerosa, como se nossas almas estivessem em um frenesi profundo. 

 

Se eu fosse um livro, eu não seria uma autobiografia, suspense ou romance, muito menos auto ajuda. Seria um daqueles livros de poesia e fantasia que os jovens apaixonados gostam de citar quando estão em grupos de amigos. Com aquelas histórias confusas e cativantes, que é preciso uma análise mais a fundo pra entender onde começa a metáfora, a psicologia e onde termina a aventura. Um clássico escrito por um autor antigo que ninguém imagina que fim levou, que teve uma vida misteriosa e muitos duvidam de sua existência. Um daqueles livros que você precisa ler, não por obrigação, mas por pura vontade e curiosidade. 

 

Se eu fosse uma bebida, seria um vinho tinto e forte, com um sofisticado sabor doce que disfarça o amargo do álcool e termina numa leve ardência na garganta. 

 

Se eu fosse uma flor, não seria uma rosa vermelha e comum, muito menos o chamativo girassol, menos ainda a delicada tulipa... Mas sim, um lírio. O exótico lírio. A flor que todo mundo já viu na vida, mas quase ninguém se lembra ao certo de como se parece. Aquela flor que os decoradores amam colocar num arranjo de mesa durante um almoço importante, que estampam quadros de lojas ou casas chiques. A flor que dá significado ao meu nome. Pura, mas forte. Está na beira das ruas do bairro pobre e nos jardins requintados dos condomínios caros. 

 

Se eu fosse uma arte... Ora, eu seria a arte por si só. Vou desde o desenho simples da criança que aprende a pegar na caneta, até a orquestra bem ensaiada do maestro que está se aposentando. 

 

Se eu fosse me definir, eu diria que sou tudo isso e um pouco mais. Não por que me acho assim, mas sim por que eu gostaria de ser. Me disseram que eu sou o que penso sobre mim, que se eu acreditar que sou ruim, me torno ruim, o mesmo vale pra ser boa. 

Na verdade, sou apenas uma mulher. Mas se eu pudesse escolher ser qualquer coisa, eu seria uma mulher forte e decidida, doce e delicada, sensível e independente, charmosa e inteligente, séria e apaixonante, divertida e sexy... Tudo o que qualquer mulher é capaz de ser, da infância a velhice. Eu seria muito além do que um homem poderia imaginar. Eu seria o suficiente pra estar bem comigo mesma. Mas sou apenas, uma simples mulher. Não uma mulher qualquer, mas uma mulher comum.