Carlos Lucena

SAGA

SAGA

Não sei se vivi
Ou se sonhei.
Se ante a realidade
A mentira ou a verdade
De algum jeito
Dentro ou fora do peito
A dissertação certa ou com defeito
Engenhosamente dissertei.
Pintei flores
Desenhei amores
Cantei dores.
Vi amores que se foram
Dores que ficaram.
Divaguei por entre os mares
E naveguei em muitos lares
Voei nos ares
Rezei nos altares
E sentei-me em muitos bares.
Fui além das virtudes
E me pus diante dos defeitos.
E ainda os meus vícios não fizeram-me de  satisfeito.
Fui até a porta que se abria
Mas também vi o portão fechar
E foi assim que vi os que partiam
E os que estavam a chegar.
Diante do tempo e sua ordem.
E das horas  a passar
Consolei os que perdiam
E admirei os que estavam a ganhar.
Transcrevi o pensamento dos loucos
Que enlouqueciam
Por amar
E alta definição os que só sabiam odiar.
Ouvi sermões indecentes
E plateias inconsequentes
Tantos bichos
Tantas gentes
Os bichos delinquentes 
E as gentes sorrindo
Mas querendo chorar.
Eu vi a espada da morte
Vi a flor que só queria matar
Que proibia os beijos
Que impedia  os abraços
E silenciava os desejos
Minando  almas em seus laços.
Vi o fumo escuro talhando o ar
E a cinza branca entranhada  no chão
Gotas do mar a chorar
Fechei-me no coração 
E a lua branca
Escondida, muda e cega perdendo a visão.
Calei-me nas horas serenas
Falei no tempo impreciso inspirei-me em duras penas
Experimentei o choro e o riso. 
Cantei com os querubins
Voei em vários espaços
Uni-me aos serafins
Entre braços
E abraços
Caí em muitos laços
Dancei com os palhaços
Andei com as meninas
Dormi com as prostitutas
Virei noites com as putas
E amei como as colombinas.