Ontem por um instante, sozinho no escuro do quarto, me peguei pensando no tempo, aquele que já passou, naquele em que estou e no futuro que me restou. Sem notícias de amanhã, não há muito o que pensar, diferente de outrora, tudo que me resta agora é o tempo aceitar.
Sem notícias de amanhã, cada hora do meu dia, cada sonho ou fantasia tem o peso de uma vida, já não sou mais um menino, não tenho mais ilusões, não controlo meu destino, não acredito em sermões. Já não tenho tanto tempo para perder, altercações se vai ter sol ou se vai chover, prefiro acordar cedo e apreciar o amanhecer.
Sem notícias de amanhã já não preciso de um carro veloz, vou devagar desatando os nós, fazendo laços, cultivando abraços, cantar e dançar ao som da minha voz. Já não tenho tempo para ouvir besteiras ou perder as estribeiras com assuntos levianos, prefiro nem fazer planos, só acompanhar o pôr do sol.
Sem notícias de amanhã vou ouvir meus discos de vinil, aprender uma nova música até abril, e de uma forma bem sutil me transformar em passarinho, se não posso mais voar, sem notícias de amanhã, eu canto e danço sozinho. Já não tenho tempo para chorar, agora eu quero cantar, o instante aproveitar, como um pássaro que saiu do ninho.
Sem notícias de amanhã, eu quero andar na chuva, segurar tua mão, quero brincar pelas ruas sem amarras e sem grilhão, cumprimentar todo mundo, espalhar flores nas janelas, fomentar as coisas belas, valorizar cada segundo. Já não tenho tempo para brigas, conversa fiada ou intrigas de quem gosta de amargura, vou sorrir para a lua, acender as estrelas, vou brilhar na noite escura.
Sem notícias de amanhã eu quero viver o agora, sem marcar tempo, hora, ou preocupações com o futuro. Já não tenho tempo para sapatos apertados ou receitas para o sucesso, vou riscar o chão com giz, fazer tudo que eu sempre quis, vou pintar frases no muro, rabiscar poesias e brincar de ser feliz!
Jose Fernando Pinto