Porque as pessoas têm tanto ódio nos corações?
Porque as pessoas se magoam umas às outras?
Porque há tanta violência?
Porque há tanta complacência?
Porque para a maldade há tanta tolerância?
Porque há tanta injustiça?
Porque há tanto ódio nos corações?
Porque há tanto obstáculo à emancipação?
Porque não me vês como ser humano que sou?
Porque não vês que sou feita de carne e osso?
Porque não percebes que o sangue me bombeia as veias?
Porque tens de descarregar em mim as tuas frustrações?
Sugar-me a vida, a bondade, o amor, a compaixão?
Sugar-me a humanidade, a paixão por viver?
Porque é tão difícil viver?
Porque é tão difícil respeitar?
Respeito não é só para quem quer ou para quem merecer.
Respeito é encarar o outro como ser, respeito é ser.
Respeito é olhar o outro como vida,
Vida essa muito preciosa para se perder.
Respeito é ver a dignidade humana na pessoa,
Antes de ver rugas, cor, raça, género, dinheiro e poder.
Porque custa tanto à humanidade ser humana?
Porque há tanto ódio nos corações?
Despejado como um balde de água fria na pele frágil?
Porque dás o teu carinho a quem não esteve lá para ti?
E cravas um espinho no coração de quem te estendeu a mão?
Sou assim tão estorvo e inconveniente na tua vida?
Se sim, porque raios tiveste uma filha?
Se não, o que se passa contigo?
Porque me tratas a mim, à minha mãe e ao meu irmão como ervas daninhas, como umas meras urtigas?
E tratas os falsos amigos como margaridas, lírios e girassóis?
Para ti, eles são como rouxinóis, cantando uma bela melodia.
Para ti, nós somos uns pica-paus, que consomem a vida para lá da madeira partida.
Mas o canto desses rouxinóis é um canto de sereia,
Fadado a te arrastar para o fundo do mar.
E quando no fundo te estiveres a afogar, quem te virá salvar?