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carlos correa

Arlequim

Algumas vezes eu crio coragem e enfrento o espelho
Fico um tempo olhando e tentando ver quem está ali
E percebi que dentro da cartola não há mais coelhos
Dessa vez eu me dei conta de que de fato envelheci

Talvez imaginem ser pela minha pele já tão sulcada
O tônus se foi há algum tempo as manchas vieram
E essas são mostras de que a idade caminha focada
Mas a velhice percebi quando outros sinais chegaram

Algo que me incomodou muito mais...

Procurei em meus olhos aquele oceano voraz e preciso
E vi um mar fosco sem atrativos frio poluído por mim
Foi então que me dei conta já não havia mais sorrisos
Naquela noite juntei meus retalhos e me fiz de arlequim

Dali em diante a cada madrugada eu voltava ao espelho
Cansado de sonhar com as mesmas imagens tirava a fantasia
Sem a maquiagem aquele sorriso que se escondia atras do vermelho
E das cenas emocionadas de filmes antigos deitava nas teclas e escrevia...

Deus abençoe os que ainda sonham e os que desistiram
Carlos Correa