Debaixo da cobertura criada pelo sol, levemente aquecida.
Os dias têm passado cada vez mais depressa, contudo alguns
momentos se desenvolvem lentamente, ainda nesse instante.
Adormecida entre a penugem do pensamento.
Tudo que é considerável é esquecido, o nada é tão específico...
Naturalmente se esquece de lembrar, para não
precisar lembrar de esquecer e apenas adormecer.
O sono-sonho é amuleto. As linhas espessas pelo nevoeiro
que chega são leves. O nevoeiro é denso. Mas no sono-sonho
só o vejo em desenho, em linhas num fragmentado espaço-tempo.
Agora o dia está no fim. Encontro, mais uma vez, um resquício
de momento-lento e sono-sonho nele. Deslizo os olhos para
baixo e só assim enxergo um mundo lá em cima.
Anoiteceu. Estar sob a luz da lua, sob a alvura leitosa do astro,
consumindo a brisa que parece levar-me ao mais sagrado do
espaço é momento-lento raro. O universo é algo incomensurável.
Dia e noite calar é decidir não ser, não ser é não caminhar,
não caminhar é morrer. Por isso o poeta não cala e escreve.
Dia e noite embevece o mundo, seja o do momento-lento seja
o do sono-sonho, com palavras. As palavras fantasiadas
vestem-me. Esse pano sou eu.