carlos correa

Quando eu for um pouco mais velho

Talvez entenda por que pode doer tanto
Um solo que não lembro de ter pisado
Talvez entenda por que às vezes tenho
A nítida impressão de ouvir meu nome

Quando eu for um pouco mais velho
Quem sabe possa compreender esse vazio
Algo imenso que me alcança a cada madrugada
De onde saio apenas por reconhecer sua voz

O sal que trago em mim vem de outra estação
Pode ser que quando for um pouco mais velho
Eu reconheça as estátuas com quem converso
Nos desertos daqueles meus sonhos marejados

Sigo por uma correnteza solitária ainda que em terra
Meus passos nunca deixem apenas um par de pegadas
Já ouvi os anjos mas são os demônios que mais estão perto
Sinto sua respiração tentando sorver o suor que exalo

Talvez esteja já ficando muito tarde bem tarde
Para ser um pouco mais velho e a única forma
De mostrar que existe uma chama que continua
Queimando seja trazer os versos de outra estação

E hoje antes de ser um pouco mais velho os anjos
Vieram cantaram uma canção e sopraram seu nome
E quando for bem mais velho pode ter a certeza
Que o levarei junto ao sal de cada nova estação

Deus abençoe o sal da vida
Carlos Correa