PIERRÔ! AMOR ALÉM DA FOLIA
Quanto sorriso, óh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
A tarde vira noite, a noite vira dia
Colombina atenta num só folião
Sedutor, malandro, brincalhão
Afável, transpirando galhardia
Insinua com voz de cortesia
Revelando quenturas da paixão
À toma num beijo, de simpatia
E na folia rouba-lhe o coração
A bela jovem desperta o amor
Do moço gentil e honesto, Pierrô
Sofrível, omisso, pacato, sonhador
Que retém nas suas mãos u\'a flor
De tantas que colhera pra menina
Se percebe, no salão, o seu odor
Capaz de ser maior que seu temor
De saberem de ser ele o autor
Das cartas escritas com assaz ardor
Que escondera por ferida a estima
Arlequim se mostra insolente
Colombina, festiva, inteligente
Quer viver o amor contraprudente
Em que a vida real é divergente
Da vida irreal qu\'ela pressupõe
Dura nada o amor de fantasias
Se esvai quem se apega à magias
Têm-se fim belas noites, belos dias
Quando quebram-se as alegorias
E, nem sempre, o tempo as recompõe
Colombina sente sua frustração
Da escolha infeliz, na ocasião
Que seguira impulsivo coração
Preferindo viver mera ilusão
Por um algo que não pôde lhe prender
Descobrindo entre seus achados
Um amor, escrito e apaixonado
Nas cartas cheirosas do passado
De alguém que amava-lhe, calado
E bem podia seu amor reacender
Reencontrando seu admirador
Prometeu-lhe sua vida justapor
Descobrir-se, de novo, no amor
Sob a sombra do antecessor
Fez promessas sutis e labiais
A moça volúvel, segue, todavia
Contando as horas, meses e os dias
Reza, quem sabe, até por simpatias
Que não tardem os dias de folias
Pra rever Arlequim nos carnavais
(Elfrans Silva)