Insanidade poética
Nesse universo material
descobri que a realidade
é o que atrapalha a minha vida.
Encontro-me perdido
na poesia que abandonei,
dos rostos eu esqueci,
dos lugares que vivi,
nas sílabas que já contei.
De tudo decido escapar,
afastado de mim eu fico,
fujo, corro, desapareço,
dou voltas no mundo
sem sair do lugar,
também me esqueço
aonde fica a trilha pra eu voltar.
Afastado em minha mente,
no delírio constante, vago à toa,
e fujo sempre pra esse lugar,
encolhido lá bem no fundo,
no escuro de meus pensamentos,
não lembro da vida,
não encontro a saída
dessa fria escuridão,
a memória falha,
as palavras somem,
enquanto perco a razão.
Mas também tenho convulsões de alegria,
pensamentos que fluem em hemorragia,
penso tanto que fico esgotado,
por isso até esqueço de lembrar.
Não sei se estou lúcido ou louco ,
com palavras sem sentido,
finjo ser bardo um pouco,
e não vivo a vida dos mortais.
É o desapego que pratico,
deixando tudo para trás,
não sinto falta nem mim,
nem de você, e nem de amar,
amo só nas linhas da poesia.
é cura que me faz sonhar.
Vivo intensamente e aos poucos
nos personagens que criei,
dou-lhes brilho e alegria,
são frutos da fantasia,
algo que nunca encontrei,
ouço elogios à minha loucura,
nesse labirinto sem saída,
de pensamentos sobrepostos,
da alma ansiosa e desesperada,
que teima em pensar,
tudo junto e misturado,
faz minha mente queimar.
É a febre da inspiração,
que jorra verbos pra todo lado,
adjetivos e metáforas aos borbotões,
as imagens sentimentos vem sem parar,
na minha pobre esquizofrenia
eu penso que sou poeta,
preso nessa caverna todo dia,
mas não consigo nem rimar.
Refém desse intelecto estranho,
que me torna um ser insano,
sou um bobo que fala alto,
com o silêncio do meu olhar,
um arauto de ideias tortas,
trovador de poesias mortas,
que ri sozinho sem saber o caminho
onde a poesia irá levar.
Assim do mundo me afasto,
indo para o reino que criei,
na minha fantasia desvairada,
imagino que sou o rei,
forte, bravo e destemido,
que diz coisas sem sentido,
mas sou apenas um louco que dança,
rodopiando em palavras sem parar,
enquanto alimenta a fútil esperança
de um dia finalmente aprender a versar.