Não consigo mais caminhar sem pensar na corrida
Não consigo levantar o queixo.
Sigo, moralmente abalado.
Abalado demais para abrir as mãos, a boca, os olhos e o nariz.
Já não fecho mais porta do quarto, todos conhecem minha podridão
Minha preguiça. Meu mesquinho. Meu leigo, sujo e faminto coração.
Não há tempo para mais nada nesta vida
Já deu-se a largada, começou a corrida
“E você ficou para trás.”
Eu não corro, como os homens!
Enquanto ultrapassam, eu apenas caminho…
Seriam eles, mais ou menos sedentos que eu?
Mais ou menos famintos?
Mais leigo? Mais sujos? Mais mesquinhos?
Mais ou menos humanos do que eu?
Deveria eu correr como homens?
Apressar o passo, cair no chão.
Com minhas pernas curtas, com minha curta vida
Quem sou eu, se nada tenho?
Preciso engolir meu desejos chulos sobre amor e poesia
Agarrar com dentes tudo que há de caro, efêmero e passageiro.
Deveria parar com a filosofia? Desaprender o que sei.
Estudar sobre ações, não humanas, financeiras!
Observar, não o canto dos pássaros, mas os carros e a corrida.
Mantém bolsos pesados de dinheiro e vazios de poesias.
Preciso me avessar por inteiro,
E me adoecer,
Nessa vida adoecida.