joaquim cesario de mello

NO DIA EM QUE O GALO NÃO CANTOU

 

A manhã surgiu calada

sem o cocoricó das madrugadas

 

Que aconteceu?

Será que o galo morreu?

Esqueceu da hora?

Passou do ponto?

Ou será que enlouqueceu?

 

E se o galo estiver velho

com a voz rouca, exaurida e caducada

ou caído de cima do telhado

fraturado as asas, quebrando as pernas

e agora estiver no poleiro internado?

 

Que será das manhãs não anunciadas

se o Sol não souber o instante de sua chegada?

 

O será dos pintassilgos e dos pardais

dos garis, dos motoristas do metrô

dos barmen fatigados

do último turno do telemarketing

dos seguranças das baladas

e o horário dos bêbados em chegar em casa?

 

Uma manhã sem galo

é como se o dia entrasse mudo

e a madrugada de fininho saísse calada