Enquanto andava, fugi
Não sentia a roupa cotidiana
Não sentia o cheiro da repetição
Não estava mais condenado ao meu corpo
Flutuava, sentia-me de verdade
Leve, feliz, solto, finalmente imaginação
Podia errar quanto quisesse
Como amo errar!
Há tantos erros por aí
Que saco, acertei demais
Errar e concertar
Mera formalidade
Pude fincar o amor onde quis
Tudo parecia certo, que erro
Era amado, vivia com a minha admiração
Em casa, na rua, no trabalho, na cama
Comia do melhor, bebia do melhor
Sem reclamações, que erro!
Andava e uma trilha sonora me acompanhava
A cidade, a rua, a lua, o sol.
Que erro!
Lembro-me da hora do acerto
Do pensar, do questionar, do obedecer
Era um medo que era cobrado
Tinha que tê-lo, tinha que acertar
A mira não era problema
O que me puxava era a dúvida
Acertar era tão...
Não era difícil, só era errado
Tive que continuar à andar
Aquilo não era andar...
Eu não estava lá, nem flutuava
Rastejava deve ser mais preciso
Aquela pessoa que me amava
Era um erro
Não pode haver erros num mundo de acertos
Eu nunca acertei com ela
A música resgatava o erro, minha querida fuga
Ao passar do tempo
Não me agradava mais
As notas eram coordenadas, tinha sentido
Me via no chorar cantado
Que acerto!
Até agora vivi em dois mundos
Minhas contradições vivas
Já parei de errar e acertare
Eu agora só tento
Tento está no limite do mediano
Tento não elaborar planos
Tento não flutuar nem rastejar
Tento ver além do alvo
E condicionado à fugir e ser capturado
Penso que o maior sonho é não sonhar
Para que isso?
Nunca entendi o querer
À cada momento mais a consciência se degenera
Necessito necessidades desnecessárias
Talvez tudo seja a realidade
Talvez seja pecado desejar
Essas minhas mão
Que poderiam mover tudo
Que querem mover tudo
São fracas, perdidas
Precisam de um cérebro, um bom cérebro
Esqueça o poema
Que sonho!