De cima do muro, existe uma visão do mundo, onde os sinais positivos e negativos de nossas vidas se encontram e se abraçam em êxtase. Vendo isso, sinto-me tonto, com vontade de descer, mas meus olhos querem enxergar além do brilho que me cega, me obrigando a estar ali. Ao redor do muro, não tem nada além do seu lateral ferido e descascado pelo tempo, lugar onde, nas tardes quentes, eu subia para me despedir do sol. Eu pisava seu traço que era cortado por uma estrada empoeirada, onde eu caminhava e nunca chegava ao fim. Era esquisito! Meus pés descalços sentiam o solo agredir a pele como um beijo dela ao qual era gostoso e dolorido porque, desse beijo, não sentirei mais o sabor.
O muro era finito e possuía um portão. Era possível passar à sua volta ou pular as suas emendas, mas não empurrar as grades de sua extremidade. Ah! Muitas vezes fiquei nele sentado, olhando ao longe. Sonhando com as mais belas situações que a minha cabeça infantil pudesse imaginar e quando a sirene da fábrica de emoções informava aos raios de sol que já é hora de ir, eu ia também.
Os tempos passaram e hoje existe outro muro em minha vida ao qual eu não posso subir. Um muro transparente que separa corações, um de cada lado, frente a frente. Enquanto um decide, o outro chora. Enquanto um espera, o outro esquece. Enquanto um se humilha, o outro diz não. E assim, amor e ódio se encontram com tal poder que não é preciso dar a volta ou pular as suas emendas para cruzar seus lados. Basta apenas que ambos deem as mãos para que se forme um portal.
Acredito eu que todos nós, em algum momento, estivemos indecisos, em cima do muro, em situações que não se igualam de pessoa para pessoa, mas as decisões tomadas são uma das marcas deixadas no muro de sua história.