Carlos Lucena

OUTRO CONCEITO

OUTRO CONCEITO

Nem só de emoções 
é feita a poesia
Até que pode ser sonho
E passar na fantasia 
Mas também  
é realidade.
Não é prisão 
É liberdade. 
Não é somente 
cantar amores
Nem apenas 
admirar as flores.
Seja tudo isso
Mas seja também 
O sorriso
O choro
As dores.
Tenha  ela a paz de anunciar e a ousadia corajosa de denunciar.
Não é pois só  cânticos,
Embalada pela ode lírica dos românticos.
Se é a melodia dos corações amados
E a música suave 
dos amantes
É também o grito e o choro dos abandonados 
E a silenciosa dor 
Dos que nas sarjetas estão agonizantes.
Não é pois ela, 
Tão somente 
o lirismo das paixões
Qual música de cítara angelical.
Antes também seja a denúncia das falsas ilusões onde o bom não se confunde com o mau.
Se o poeta se preocupa somente com sua dor
Ou só descreve  suas líricas emoções 
Não entendeu 
ainda o amor 
Pois o que lhe prende 
são as algemas das suas próprias sensações.
Não é só sentir
O aroma 
das flores jardineiras 
Porém, é também  ver abrir as que estão esquecidas na vida
E nas lixeiras.
Mesmo que ela cante os amantes e seus amores 
Mesmo que pinte 
a paixão de muitas cores
Jamais será poesia
Se esquecer o homem 
e suas dores.
E não somente a dor do amor que dilacera o peito
Mas a dor 
em outro conceito
A dor dos abandonados
dos esquecidos 
e injustiçados.
Que o Poeta de tudo cante
A natureza
A alegria
A felicidade 
A beleza
O amor e o amante
Mas também cante
Os humilhados
Os pobres
Os dilacerados
Que estão não vida perdidos
Que estão 
na vida jogados!