POSSESSÃO
Tento fugir
Porque às vezes
tenho medo.
E outras tenho preguiça.
E também
me vem o tédio
E os desenganos
são hostis
Tantas vezes
sem remédio.
São hemorrágicas
as palavras
se não as faço
Se não as digo
Não estanca
E sangra-me
Corta-me como lança
Ela escorre em mim.
Queria cansar-me dela
Porque ela
não dá sossego
E incorpora-se em mim como possessão.
E eu fico
como um corpo possuído
Fico dividido
O coração diz que sim
Mas o corpo diz que não.
Toma-me a sinestesia
E entre todas
essas sensações
Possui-me
essa tal poesia.