joaquim cesario de mello

A BOCA DO TEMPO

 

Sou de um tempo

em que os relógios não me diziam nada

os adultos fumavam cigarros

e ainda havia trilhos de bondes

espalhados pelo chão da cidade

 

Sou de um tempo

em que tudo parecia durável

não sabia que existia velórios

e os aniversários serviam para comer

bolos, doces, pipocas e salgados

para depois me divertir com os brinquedos

que nos dias dos meus anos havia ganhado

 

Sou de um tempo

em que ignorava o que era o tempo

apenas que havia férias domingos e feriados

e o que pra mim eram lembrança

eram coisas que tinham acontecido

antes do réveillon do ano passado

 

Sou de um tempo

que a boca do tempo levou

e se ele anda hoje para a frente

para mim eu o vejo andando para trás