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Hébron

Um olhar para sempre

Seria apenas um olhar
Um singelo olhar pela janela
Uma cidade, visão de casarão
Mas lá estava ela

De repente um ponto estático
Eram dois olhares, única visão
Entre dois pontos, um despertar
Uma eternidade num olhar

Um universo, um átimo
Uma ponte, uma estrada
Tempo parado... fizemos a travessia
Aquele olhar foi a primeira poesia

Uma reciprocidade, uma sintonia
Enxergava a batida do seu coração
Era melodia, era canção que se fazia
Sua aura cintilava perfume de emoção

Lá estava ela, estonteante, bela
Escultural, musa de artista em tela
Beleza em tangência que serpenteia
Alucina, fascina, prende, apeia

Mas lá estava ela, para sempre
Eu fitava seus olhos, o mundo parava
Cabelos negros cacheados, anelados
Pele doce, veludo em clara negritude

Lá estava ela, para sempre
Desejava seus anseios, seus anversos
Seus lábios me pediam, calados
Sonhava ela em contornos, em virtude

Continua ela a me olhar, para sempre
Eu a olhava, desejoso do seu ventre
Sonhava para sempre, e algo ainda peço
Que nosso amor seja eterno nesses versos

Não piscava, era o medo, medo de lhe perder
Não desviava o olhar, não ruiria nossa ponte
E hoje só há saudade ao longe, no horizonte
Um horizonte carente do seu resplandecer

E como pode ser tão infinita uma brevidade?
Acredito que muitas vidas viverei e já vivi
E ainda é vida meu olhar para ela, não morri...
É vida de encarnação o olhar dela, é verdade...

Aquele instante ainda é o meu presente
Ainda vivo sem o tempo essa semente
Gérmen de amor em lembrança
E em cada sonho é devaneio de esperança

O olhar continua como uma vida, na mente
Na mente errática ansiando a reencarnação
No pulsar de todas as minhas vidas,
Amor dos tempos, guardado no coração

Lá está, em quânticas existências unidas
Destino na transcendência que se cumpre
Mas lá estava ela...
Todo o carma num olhar, para sempre...