Paula Guedes

Anatomia Torta

 

 

TENHO PÉS PEQUENOS E PASSOS LARGOS.

OS DEDOS DE MINHAS MÃOS SÃO FINOS E COMPRIDOS

E ESTÃO,

QUASE SEMPRE,

EM BUSCA DO INFINITO.

MINHA BOCA GUARDA SEEGREDOS, DESEJOS E ÂNSEIOS,

QUE VEZ POR OUTRA, DÃO VOLTAS EM MEU ESTÔMAGO.

AH, O MEU ESTÔMAGO...

PRIMO-IRMÃO DO MEU INTESTINO DE DESCAMINHOS.

MEU PROBLEMA? DIGESTÃO!

COMO DE TUDO E NADA...

AVEIA, AMEIXA, MAMÃO, HORAS SENTADA

O PENSAMENTO VAGUEIA...

ALIÁS, OS MEUS PENSAMENTOS SÃO UM CASO À PARTE,

CHEIOS DE PECADOS,

OS SETE,

QUASE NUNCA CONCRETIZADOS.

PERMEIAM DÚVIDAS, INCERTEZAS DÚBIAS,

RAZÕES E ARREPENDIMENTOS

QUASE TODOS MOVIDOS PELOS MEUS SENTIMENTOS.

ALIÁS, CANSEI DE PROCURAR QUEM OS COMPREENDA,

SE NEM MESMO EU OS ENTENDO.

MAS VOLTEMOS AO MEU CORPO:

SORRISO LARGO, SEIOS PEQUENOS, MEU DESGOSTO.

TANTAS COISAS A RECLAMAR.

MAS MEUS CABELOS, ESSES, EU APRENDI A AMAR!

CRESPOS E REVOLTOS É ASSIM QUE OS QUERO

REPRESENTAM A MINHA LIBERDADE,

A MAIS VIRGEM DAS VAIDADES.

TENHO BRAÇOS QUE ABRAÇAM COM SAUDADE,

OLHOS, QUE POR MAIS QUE EU TENTE, TRAEM AS MINHAS VERDADES.

PELE QUE ESQUENTA O SEXO AO TOQUE DA PESSOA AMADA,

JOELHOS PROBLEMÁTICOS, COSTAS CANSADAS.

SOBRE MEUS OMBROS O PESO QUE A VIDA ME DELEGA.

NO CORAÇÃO, O AMOR DE MÃE, O PEITO APERTA.

ANATOMIA TORTA

REMOTA AOS GENES DO PASSADO QUE CARREGO,

REFLEXO NO ESPELHO ONDE ENCARO

O DESTINO INCERTO,

AO QUAL ME APEGO.