vivip

Você tinha razão, mãe.



Eu lhe parti o coração

Vi seus olhos em mim
Perfurantes; lanceiros
Eles pareciam se indagar
Assim como eu
Se eu ainda estava ali.

Você tinha razão 
Não admito minha dor
Guardo-as e as lanço
Como pedras fundas
Que viajam num lago das tuas posteriores lágrimas
Cravando em ti uma lacuna
Que reflete a que eu mesmo tenho.

Você tinha razão 
Sou deveras arrogante
Tento livrar-me dessa angústia 
Jurando que não dói
Através de inconscientes ataques
A quem eu mais amo
A quem eu tenho certeza de que
Até se vissem minha faceta mais sórdida
Jamais me deixariam;
e se trata de um egoísmo tão colossal 
Que peço perdão 
Mesmo que em vão. 

Você tinha razão 
Desfazer-me de minha defesa
É cruel de modos inefáveis
Mas jamais tão cruéis
Como fui contigo
E meus outros amantes;
então imploro
Deixe-me partir para o vazio
Contrair-me para o que reside
Em meu coração partido.

Partirei inerme à estas terras
Pois monstros não me derrotarão
Não ousam; temem
Ao que sou:
um maldito monstro como eles.

Você tinha razão 
Você tinha toda a razão, mãe.