joaquim cesario de mello

CEMITÉRIO DAS NUVENS

 

Nunca consegui acompanhar

o findar das nuvens

e o ocultar de seus desvanecimentos

 

Desde garoto contemplo

o suave esbranquiçado dos movimentos

pincelando desenhos, formas e rostos

como algodões a desinfetar o céu

pincelando minha alma de azuis

 

Não é a vida que passa ou muda

são as nuvens que se transmutam

no bailar infindável de suas liquefações

 

Para onde vão as nuvens e este menino

que meus olhos não alcançam além

dos horizontes negados às mãos?

 

O que há no mar a seguir

deste em que navegam as nuvens

no flutuar sobre o ventre da Terra

por sobre onde habitam diminutos insetos?

 

Mas quando chegar

a hora do meu desaparecimento

quero ir para onde estão escondidas

minhas sumidas perdidas nuvens

para nesse secreto paraíso de ingenuidades

me deixar chover por todo o resto da eternidade