Letícia Alves

A estrela queima, eu teimo e volto

No brilho da noite eu encontrei
o significado perdido, avulso
da estrela caída.

Parece ter sofrido e estar perdida,
mas brilha. Emite raios que se
pudessem, cantariam.

Brilha e irradia com uma potência
que só paira nas caídas.
Observo de dentro.

Volto para casa,
já não me sinto solitária.
A estrela queimou. 

 

- Comentário/explicação sobre o poema:

A estrela \"ter queimado\", neste poema, remete ao termo científico de \'fusão nuclear\', onde as reações de fusão são aquelas em que dois núcleos de átomos de massas menores se unem para a formação de um núcleo maior. Logo, a fusão nas estrelas se dá no seu centro, em altas temperaturas. Quando acaba o combustível — e a fusão chega a queimar elementos mais pesados como o ferro — e o reator nuclear é desligado,estrela não pode mais suportar o peso das camadas que estão próximas ao núcleo dela. Ela então explode, num fenômeno chamado \'supernova\'.

Acho incrível a forma esplendorosa e dolorosa de como a estrela tem de morrer para viver todos os dias... Às vezes me pego pensando sobre como quase ninguém atenta ao fato dela brilhar apenas porque queima primeiro. Se fossemos como as estrelas, agarrássemos a nossa sina, enfrentássemos nossos \"elementos mais pesados\" e aceitássemos os \"momentos de fusão nuclear internos\", a fusão da vida-vivida com o peso das camadas de não-vida seriam melhores. Eu seria melhor. A estrela que morre todos os dias me inspira e reanima. É o que queima que é vida.