eu quero deixar tudo adiantado
o café
o box aberto
a louça do escorredor
como se a vida viesse voraz
e me levasse o tempo que ainda nem tenho
então, eu o roubo primeiro
na esperança de vivenciar a fruição
algum dia
em algum momento
numa via suspensa
em que as capilaridades do rosto
não sejam vistas
– nem existam!
Sinto-me entrever cada instante
e, inconstante,
adianto tudo o que posso
só para dizer ao fim do outono:
– fiz quase o que precisava ser feito
apenas não cumpri direito
porque o tempo não me permitiu…
e quando virá a hora de apreciar o café,
o banho morno e o nada?
Quando esta impetuosa estrada
chamada t e m p o
conceder-me-á a graça da sua visão?