Sonolentas as manhãs,
que se desdobram em luzes,
e se abrem os pássaros
ao sol; rebatem-se ao
vento que tem a medida
certa de cada voo.
Se ela soubesse o que eu sei
esta manhã,
Se ela ela imaginasse ao certo
esta manhã,
estaríamos juntos na amplitude
do espetáculo matinal,
à espera de que nos nutrissem
de ânsias e desejos.
Mas de longe, sentado,
ao largo de um banco úmido
de orvalho, batido pela madrugada
sabemos que perdemos o que
nunca tivemos,
e deixamos de ser
aquilo que sempre éramos:
música de sonho,
flauta mágica que nascia
quando o verbo da
carne falava
através dos desejos úmidos;
das testas empoadas de suor.
Assim foi uma única
vez:
o que vinha numa direção
rebateu-se noutra,
e a paz que era duradoura
virou pacto de ausências.
Hoje, sabemos nós,
estamos sós,
perdidos em dois
espaços, onde, soslaio,
não há mais tempo.
Nem para ir nem para voltar.
Duendes mágicos trataram de nos
fazer coisa passageira, cobertas
com dobradiças de ouro e almejadas
de beijos e abraços que, nunca,
nunca, chegaram por aqui,
na minha velha choupana:
antro apaziguado
dos desejos e da solidão
que se mede ao vento
e bate afônica até às lágrimas.