O Fantasma
É madrugada, inquietações internas impedem-me de adormecer
Mente desgastada, impossibilitada no regalar, decido levantar-me
Escuridão e remanso, caminho até a janela olhando o limiar a minha volta
Uma sensação de solidão me toma, observando o negrume a rodear minha rota
Quando repentinamente avisto uma sombra vagarosa e pálida
Segundos levam a constatar o ser a flutuar na relva ainda álgida
Nada se não um fantasma, um ser transcendente a causar espanto
No entanto, a mim despertava desvelo, prostrei-me ali o vigiando
Foi aí uma percepção em minha introspecção humana a refletir
Faziam-lhe companhia deleitosos corvos, ele regava negras flores no solo torvo
Dos funestos galhos daquele jardim, esbeltos morcegos o cercavam
Tudo aquilo na minha lírica e insólita visagem era esplêndido
Incitava em mim incompreensivo desejo de também estar ali
Esta figura proveniente dos confins ocultos e invisíveis aos mais céticos
Contava agora aos corvos e morcegos graciosas histórias de um passado sepultado
Podia ouvir sua voz em tom indescritível sob uma serenidade sepulcral
Lamentavelmente ao povaréu hediondo e repulsivo se embriagando em imposturice
Seus sonhos mais magníficos eram imperceptíveis a estes seres sórdidos na cretinice
A enxergarem apenas aquilo a interessar-lhes, gente de uma nascente de desasseio
E eu mais um destes indivíduos o enxergava e com olhos lacrimejando pensava
Por quase toda minha vida eu me sentia e sinto-me tal qual este fantasma