Samuel Knevitz Silveira

Avad

Oh, cordeirinho
O que fazes neste lodaçal?
Por que longe do teu rebanho estás?
Por onde anda teu pastor?
E por que te falta a devida lã?

Avad é meu nome
Do meu rebanho, apartado fui
O lobo, um dia, por pastor se passou
E, com suas garras, minha lã tosquiou

Oh, cordeirinho
Por que daí não sais?
Por que não procuras a teu pastor?
Pastos verdejantes te aguardam afora
E, no devido tempo, nova lã te surgirá

Minhas patas o lobo laçou
Inocência e virtudes - delas se fartou
Abatido e imundo, por socorro eu clamei
De lodo e sangue, coberto aqui estou

Oh, cordeirinho
Alva é a lã que de ti nascerá
Basta, apenas, meu cajado alcançar
De ti bom exemplo a outros farei
Do vil tremedal de onde um dia o tirei

Cansado estou por muito tentar
E sei que à espreita o lobo sempre estará
Temo por outros a quem ele possa tragar
A que custo deveria eu ainda arriscar?

Mágoa é o lodo que outrora te maculava
Perdão é o cajado que hoje te salva
Ao lobo, juízo será aplicado
Pelo pastor dos pastores
Que anseia em ver-te curado!