Letícia Alves

Soneto da Chuva

Uma neblina bem no alto da montanha põe-se
à porta. Durante todo o inverno espero
algo e não vem ninguém. Os pinheiros
ao vento ressoam em silêncio gentil.

Escurecidos exclamam a saudade de outrora,
achada na felicidade atual de alguém
que já se pôs sorrindo atrás da porta...
Casas decaídas, enfileiradas, uma esquina.

Ando com passos preguiçosos, ouço o piano da
chuva que cai. A chuva reflete reflexiva na poça
d\'água. Entre muitos pensamentos e nenhum.

O mundo parece acontecer bem devagar. Meu corpo
é muito pesado; continuo no declínio a passos fracos.
Murchei no inverno e a primavera envelheceu sozinha.