noi soul

gu-erra

Estou tentando entender o mundo
livre da dicotomia
e da agonia do próprio existir… 
se matam crianças
se matam sonhos 
se matam gentes
e não há um porquê
estou tentando
– me obrigando
a compreender…
se mães choram e sangram
para alimentar aqueles que solicitam 
– tão incessantemente
sua atenção
se não sobra tempo para carinho
se não há um caminho
longe da perdição…
estou lutando para ver esperança
nos olhos dos otimistas
nas linhas das mãos de quem vive feliz
– e indiferente
ou apenas diferente de mim
apenas tentam viver
enquanto o mundo desaba
– como sempre desabou
enquanto o fim prometido
alcança corpos em cada esquina distante
enquanto ainda não chega sua vez na fila
– não a fila da sopa!
nem há sopa
nem casa
nem nada!
não há um pingo de sopa
ou de dignidade… 
apenas feridas abertas
em peitos e almas
dilacerados pelo terror
esmagados pelo horror
deturpados pela estupidez
– de guerras sem sentido – 
de homens que matam outros
de uma sociedade que clama 
a deuses surdos e cegos
– não há um pingo de vida!
onde minha mão possa alcançar a saída…
onde meus braços se façam presentes
onde minha pele se estenda para proteger
filhos que não são meus
mas que agonizam em prantos 
capazes de estilhaçar o espírito
daqueles que ainda veem
daqueles que ainda sentem
daqueles que ainda fazem parte
… de alguma humanidade!