saí de casa como noutros dias
levando a certeza do regresso
agarrada ao molho de chaves
no bolso externo da mochila
mas não era esse “o tal plano”
que urdia há dezenas de anos
quando tinha mãos quentinhas
a vida, ali daqueles segundos
das coisas que apenas têm ida
tempo do trem de lembranças
de tantos amores desprezados
dos olhares incompreendidos
dos beijos demasiado rápidos
das frases presas na garganta
e nos meus bloquinhos de notas
com tantos poemas começados...
e o peito doeu forte e infinitamente
a angústia de não os ter completado
e às minhas sobras ainda vermelhas
quando o lembrar já me havia partido
a espessa primeira lágrima póstuma
eu devo ter, por fim, ali misturado
naquela bonita manhã de noite
feita de asfalto e ferragens
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 03/11/23 --