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Antonio Luiz

Roupeiro de lembranças

deve sofrer de disposofobia, coitado:

prejulgam-me uns pobres de  história!

de fato, eu guardo muitas lembranças

num roupeiro  envernizado  de  imbuia

que já ocupa  um  quarto  da  memória

 

certa parte está disposta em cabides

tal camisas, que só no  peito  apertam

tecidas na doce  infância  e  mocidade

como os bordados em  panos  da  vida

resguardados ali das traças da  idade

 

recordações revivíveis a todo  tempo

por perfumes, por cores ou  por  sons

ecos perenes e  silêncios  do  passado

momentos não  apagados  pelos  anos

retratos fixados ao fundo das portas

 

ali só os segredos se desmantelaram

nos fundos falsos de cada  gavetinha

desassegredados ou então reduzidos

a um pó fininho, um  tipo  de  farinha

da qual hoje  o  meu  riso  empanzina

 

 

-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 31/10/23 --