joaquim cesario de mello

ERA UMA VEZ UMA CASA AZULADA

 

Na sincronia confusa e diacrônica das lembranças

a casa do ontem era azulada como é o céu da infância

 

Se o azul já não fosse um som ou uma palavra

haveria de ser por mim uma cor inventada

 

De que adianta uma casa colorida de azul

se no interior fundo e incolor da memória

o azul fosse coisa nenhuma ou não me dissesse nada?

 

Todos necessitamos significar com palavras

os intervalos em branco e eventuais das nossas histórias

pois são nelas que as pessoas que somos

ficam em cada um de nós em si arquivadas

 

Por isso não é preciso saber

qual parte do arco-íris tingia aquela morada

porque lá onde nela ficou meu distante presente menino

fosse branca verde amarela ou até mesmo laranjada

será para sempre em meu íntimo uma linda casa azulada