joaquim cesario de mello

A ETERNIDADE

 

Na eternidade todos os dias são domingos

e as manhãs são escuras como se fossem

uma imensa noite inesgotável e prolongada

 

Na eternidade todos os gatos são pardos

os arco-íris são descoloridos e daltônicos

e os ruídos têm a mudez silente dos inaudíveis

 

Na eternidade o tempo é o tempo que não passa

os relógios são órfãos de ponteiros e números

e calendários são impressos em branco e sem datas

 

Na eternidade não há cinemas, praças ou praias

se existisse shoppings estariam sempre fechados

e não há restaurantes para se comemorar aniversários

 

Na eternidade tudo se encontra inerte e parado

nada anda nem pra frente pra trás ou de lado

nem sei para que serve aquele semáforo quebrado

 

Na eternidade ninguém se olha nos espelhos

os cemitérios estão habitualmente lotados

e não é lugar para quem medo de fantasmas

 

Na eternidade a porta de saída é a mesma da entrada

não há paredes nos corredores enormes e dilatados

e ao final quando se chega se encontra o nada

 

A eternidade deve ser uma coisa maçante

monótona aborrecida e muito muito chata