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Crica Marques

Um certo olhar

Se seu olhar fosse um abismo

Lá estaria eu, me jogando, me aventurando

Já teria pulado sem medo,

Sem apego ao que restaria de mim

 

Se seu olhar fosse um balão

Lá estaria eu, sobrevoando o mundo

Descortinando paisagens novas

Rezando para que o vento não tivesse fim

 

Se seus olhos fossem pontes

Lá estaria eu, fazendo a travessia com pressa

Com ânsia de chegar, de ver o outro lado

De conhecer o suposto desconhecido

 

Se seus olhos fossem chamas

Lá estaria eu, queimando, me desfazendo

Seria parte dessa fogueira

Ardendo feliz e por escolha consciente

 

Se seus olhos fossem jogo de azar

Lá estaria eu tentando, apostando todas as fichas

Lançando os dados, arriscando palpites

E torcendo para ter sorte em cada rodada

 

Esse olhar de mansidão e calmaria

De brusca queda e suave conforto

É espelho e esfera

Espera e desencontro

 

Esse olhar, um certo olhar

É medo que consome e esperança que move

É precipício, opção sem volta

É caminho que teimo em escolher.