não há plenitude no amor que despreza
o beijo relâmpago dos pedaços de bocas
e o coraçãozinho no vidro suado do banheiro
eu não sirvo pra fazer pouco caso das sutilezas
águas pesadas de março apenas fecham verões:
são incapazes de fluir nas manhãs de setembro
mas as rolhas leves de cortiça dos espumantes
podem subir num ano e descer no outro
há mais liberdade nos encarceramentos
das diminutas formigas num açucareiro
do que naquela gigantesca estátua verde
cravada na ilha Liberty, em Nova Iorque
os pequenos pios de pintainhos amarelos
quebram o mais descomunal dos silêncios
e a centopeia é provavelmente mais lenta
que o Saci-Pererê com gorro e cachimbo
é que pé de mais nem sempre ajuda
eu peço bem menos, e sou mais completo
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 11/10/23 --