Isabele Farias

Até que a morte o liberte

Eu nunca me senti
Inclusa ao que
Ao meu redor
Existe e acontece
 
Eu nunca percebi
Que aquela exclusão
Pudesse ser a solidão
Tomando conta de mim
 
Eu sempre achei
Que um dia pudesse
Me tornar alguém
Que eu quisesse ser
 
Sempre buscando
seguir os passos daqueles
que para mim eram o
exemplo perfeito
 
Sempre deixando
Com que falassem
Para mim, o que
Eu deveria fazer
 
Sempre pensando
Nos outros, nunca
Pensando em mim
Preocupada demais
com o que eu seria
 
Seguindo ordens
de alguém que  
sempre dizia o
que eu deveria ser
 
Eu nunca achei que
um dia pudesse me
tornar alguém que
eu sempre admirei
 
E o que me tornei
Eu não sei, só sei
Que o meu passado
Nunca saiu de mim
 
Atormentada por seus
Estilhaços, me desmonto
Em pedaços como em
Um quebra-cabeça
 
Que ao ser remontado
Nunca está completo
Sempre fica um buraco
Sempre falta uma peça
 
E me faz incompleta
Uma única peça, que
Carrega o peso de
Um sonho enterrado
 
Me pergunto se o
que eu faço é o
mesmo que aquilo
que eu deveria fazer
 
Em um verso bagunçado
Eu me viro do avesso
Pra criar um recomeço
De quem eu queria ser
 
Mas permaneço
Imóvel, pois, percebo
que os contras pesam
mais que os prós
 
E ali, sem movimento
Eu desisto da ideia,
Só naquele momento,
De ser quem eu queria
 
O meu sonho de poeta
Agora trancafiado, mas
Ainda intacto, pois não
Desisti de mim
 
O que de mim faz parte
é a poesia, é arte, é a
palavra, a escrita, que
mantenho por perto
 
E quem sabe um dia
Num futuro não tão
Próximo, o meu sonho
Trancado, em meu leito
De morte, não seja liberto?