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Ricardo Mendes de Vasconcellos

Os olhos do Menino

Comecei a caminhar pela rua. Vi uma moça tatuada, jogando sua guimba de cigarro no chão. Vi passar dois cães, farejando por comida, nos sacos plásticos de lixo preto, muito bem amarrados nas beiradas das calçadas.

Vi a senhora que passeava com seu neto no carrinho de bebê, com um sorriso de canto ao outro das orelhas como se dela fosse o mundo, como se dela fosse o filho.

Vi o caminhão de lixo, com seus intrépidos ocupantes, catando os sacos plásticos de lixo preto, muito bem amarrados nas beiradas das calçadas.

Vi os jovens estudantes, todos se comunicando através de suas gírias herméticas, seus movimentos de mãos ritmados, ensaiados, suas modas e invenções.

Vi as crianças e seus smartphones e os velhos querendo voltar a serem crianças sem smartphones, apenas voltar a ser crianças e nada mais.

Vi o sol, vi a lua. A nuvem e a chuva e depois o sol de novo. O vento que move as ondas, as ondas que furam pedras, as pedras que se desmancham na areia.

Vi o menino de rua, vi o menino na rua, vi seus olhos e os seus olhos me viram e, através deles, pude enxergar toda a dor, toda a pureza, toda a inteligência, toda a vivência, toda a ignorância, toda a perspicácia, toda a sobrevivência e todo o aprendizado que andar na rua poderia me proporcionar.

Voltei pra casa mais sábio, graças aos olhos do menino.

Os Olhos do Menino - Ricardo Mendes