joaquim cesario de mello

TEU PRÍNCIPE ENCANTADO

 

Não me queira

sentado em um banco de praça

dando comida aos pombos

em um final repetido de tarde

 

Não me queira

frequentando ateliês de alfaiates

pois não nasci para ser medido

e nenhum terno ou blêizer me cabe

 

Não me queira

olhando meu futuro destino

em coloridas cartas de tarô

ou jogando pequenas conchas de praia

 

Não me queira

remexendo velhas caixas de sapato

em busca de antigos e caducos retratos

em que o ontem ficou neles aprisionado

 

Não me queira

abstêmio sóbrio e moderado

pois venho do último século terminado

e ainda bebo cervejas e fumo cigarros

 

Não me queira

cochilando deitado em redes

porque não nasci pra ser marinheiro

e enjoo até com o balanço do mar

 

Não me queira

com medo de ser mal falado

de cara feia ou de ser praguejado

visto que tenho o corpo fechado

 

Não me queira

ter o guarda-roupa bem arrumado

logo eu que os livros que leio

deixo por toda a casa espalhados

 

Não me queira

que seja teu príncipe encantado

afinal nem sei andar à cavalo

e calçar botas sempre me deram calos