Não me queira
sentado em um banco de praça
dando comida aos pombos
em um final repetido de tarde
Não me queira
frequentando ateliês de alfaiates
pois não nasci para ser medido
e nenhum terno ou blêizer me cabe
Não me queira
olhando meu futuro destino
em coloridas cartas de tarô
ou jogando pequenas conchas de praia
Não me queira
remexendo velhas caixas de sapato
em busca de antigos e caducos retratos
em que o ontem ficou neles aprisionado
Não me queira
abstêmio sóbrio e moderado
pois venho do último século terminado
e ainda bebo cervejas e fumo cigarros
Não me queira
cochilando deitado em redes
porque não nasci pra ser marinheiro
e enjoo até com o balanço do mar
Não me queira
com medo de ser mal falado
de cara feia ou de ser praguejado
visto que tenho o corpo fechado
Não me queira
ter o guarda-roupa bem arrumado
logo eu que os livros que leio
deixo por toda a casa espalhados
Não me queira
que seja teu príncipe encantado
afinal nem sei andar à cavalo
e calçar botas sempre me deram calos