Elfrans Silva

A ÚLTIMA CHUVA

A ÚLTIMA CHUVA 

Acho que o mundo vai desabar !
Atroos na noite; Chove lá fora
Acendo a luz, percebo a hora
Ouço o ticar à pulsar devagar 

Pela vidraça eu vejo esbaldar
Pingos da chuva, raios, trovões 
Fortes clarões vêm relampejar
Vultos em formas de construções 

Coisas estranhas de entender:
Mundo embuido na força do além 
Se é dia solar, se é noite à chover
É só mais um dia que à outro me vêm 

Um dia aprendi orar no escuro
Pra todo o medo se extirpar
Quando garoto senti - me seguro
Junto à prece e canções de ninar 

Da minha mãe guardei o sorriso
Não dorme mais no quarto ao lado
Guardei do meu pai, desvelo preciso
Não virá mais, do trabalho, cansado 

Quem não haver de ter possuído 
Entre mazelas um mundo encantado
Melhor seria não teres nascido
Que a vergonha de não ter buscado 

Por qualidade, e não quantidade
Ensina pra mim o tempo lá fora
Tanto barulho causa tempestade
Mas, com a alma, a paz corrobora 

Males e bens não merecidos
Ou escolhidos no jogo da sorte
Quem reconhece pecados contidos
Dar-se-à melhor na hora da morte 

Talvez seja esta a última chuva
Talvez amanhã, meu último sol
Quem não perdoa, do amor, enviúva
Não vê meio-dia e nem arrebol 

Acho que o mundo vai desabar
E que o poema têm muito a dizer
Sob escombros não penso ficar
Deus reconstrói, se tal suceder