A ÚLTIMA CHUVA
Acho que o mundo vai desabar !
Atroos na noite; Chove lá fora
Acendo a luz, percebo a hora
Ouço o ticar à pulsar devagar
Pela vidraça eu vejo esbaldar
Pingos da chuva, raios, trovões
Fortes clarões vêm relampejar
Vultos em formas de construções
Coisas estranhas de entender:
Mundo embuido na força do além
Se é dia solar, se é noite à chover
É só mais um dia que à outro me vêm
Um dia aprendi orar no escuro
Pra todo o medo se extirpar
Quando garoto senti - me seguro
Junto à prece e canções de ninar
Da minha mãe guardei o sorriso
Não dorme mais no quarto ao lado
Guardei do meu pai, desvelo preciso
Não virá mais, do trabalho, cansado
Quem não haver de ter possuído
Entre mazelas um mundo encantado
Melhor seria não teres nascido
Que a vergonha de não ter buscado
Por qualidade, e não quantidade
Ensina pra mim o tempo lá fora
Tanto barulho causa tempestade
Mas, com a alma, a paz corrobora
Males e bens não merecidos
Ou escolhidos no jogo da sorte
Quem reconhece pecados contidos
Dar-se-à melhor na hora da morte
Talvez seja esta a última chuva
Talvez amanhã, meu último sol
Quem não perdoa, do amor, enviúva
Não vê meio-dia e nem arrebol
Acho que o mundo vai desabar
E que o poema têm muito a dizer
Sob escombros não penso ficar
Deus reconstrói, se tal suceder