joaquim cesario de mello

UM HOMEM ALAGADO

 

Tomo café sem açúcar
de doce já me basta o sangue
em seus resultados de exame

Tomo café para acordar do sono
antes que o sono de vez me leve
para o lugar em que dormem os dormidos
que não conseguem mais despertar

Posso me levantar da cama
mas difícil é deixar os sonhos
se evaporando nos travesseiros suados
onde gotejei meus desejos oníricos
na mais recente noite abandonada

Tomo café sem açúcar e sem pão
para ficar de dia sempre acordado
na espera das chuvas e dos chuviscos
a fim de ficar agora todo encharcado
no banhar meigo dos meus sonhos molhados

Meus sonhos são fluentes e fluídos
e por dentro sou úmido e aquático

Devia era ter nascido peixe