Letícia Alves

AZUL

Olho para o telhado do quarto...
Penso que a tristeza é mais confortável,
o sol do outro lado aquece,
mas a lua à noite ¹desmistifica.
Reduz a luz branca ao azul.
O azul é confortável. O azul não
precisa, ainda que possa machucar.

Eu viro para todos os lados
da minha mente na tentativa de achar
o que falta, ou o que possui sentido-azul.
Mas o confortável é pouco.

Eu preciso querer lutar.
Contudo, eu quero lutar!
Com tudo eu quero lutar!
Na verdade, eu quero viver..

No final do dia, é quando finalmente
nada precisa fazer sentido.
O nosso querido azul, íntimo amigo,
acena dizendo adeus, como quem
sabe que regressa logo mais.
Mas também como quem sorri mostrando
que a vida é muito, mas muito mais.

[Por isso as cores do céu só são puramente azuis no seu clímax.
Portanto, quando nascem (no amanhecer)
ou quando morrem (no pôr do sol) elas misturam outros tons –
outros significados que agregam mais beleza ao azul.
No nosso caso, agregam mais significado à existência de curto prazo.]

A sinfonia, finalmente, está completa.

¹(denúncia um erro)