Canto o canto dos dias,
canto os pássaros,
a meiga paisagem,
a torta de amoras,
canto a faina dos
homens embriagados.
Canto o próximo como se a mim
fosse um pedaço de outro eu,
entrelaçado por fortes
cordas de amores cedidos.
Meu canto é seu canto,
minha voz é a sua,
meu desejo é você.
Mas que fazer?
Dúbia encruzilhada,
prepararam esses deuses,
nada patrióticos.
E como nasce o
sol de repente,
sem remendos,
ela, sem meigos, disse
adeus.
Pura história simples,
sem estrias.
Só dor de amargo.
Dor sem fim.
E pensei comigo:
só na Somália!
Descobre-se a morte
dentro da vida.
Aqui, no meu canto,
de pouca valia,
e nenhum dengo,
peço por ela.
Dê a mão
e cruze meu destino com o
seu.
É fácil: é só atravessar
um imenso campo de trigo
e, lá no final,
você vai encontrar um rútilo
espantalho.
É isso que faço da vida.
Ou que a vida fez comigo.