Hoje à noite serei triste...
Terei recordações....
Meus dias envelheceram, tão lentamente!
Guardá-los ficou-me fácil...
Chorá-los, mais fácil ainda.
Aqui, no banco desta Praça, não vejo os passantes.
São sombras ignorantes do sombrio de si mesmas.
Por que enxergá-las?
Prefiro o invisível dos meus pensamentos
onde a memória é tão viável!
Cada episódio do tempo é tão nítido...
Cada frase recordada é uma facada no peito,
uma punhalada onde doem as lágrimas...
Como é ruim uma boa memória!!
Disfarço com o lenço algum corpo estranho nos olhos.
E reponho os óculos escuros...
E cego da paisagem vigente vejo as pretéritas.
E verto lágrimas.
Uma mulher desconfia e fixa em mim.
Eu lhe aponto o polegar em sinal de um tímido positivo.
Ela, compassiva, ergue em concomitância o polegar.
Observo-a distante e compartilho a sua argúcia.
Estímulo maior ela me traz por mais lágrimas.
Um ousado motoqueiro, na avenida, me asssuta com estampidos do escapamento.
Recomponho a alma...
E volto pra casa.
Prefiro chorar sozinho e em silêncio. Ajoelhado em preces...
E sinto-me sonolento.
Durmo, enfim, em paz.
Tangará da Serra, 24/08/2023.