Todo esse tempo projetando esse encontro! Destituído de angústias me deleitava ao teu lado, ao sabor do vento, entre planícies e aconchegos.
Será só sonhos o que sonho? Éramos ansiosos nessas miragens de um futuro de desejos, nessa casa, nessa cama.
Reticente primavera se anunciava nesse mudar de estações, entre flores e comunhão. Despojei-me dos meus medos e entreguei-me a esse frêmito, a teu sorriso nesse campo de malícias. Já não havia mais olhos precários no calor desse campo, nessas noites enormes a nos esperar, entre desejos intensos e tantas imprudências.
Noturno silêncio se apossou da minha casa e eu me apossei do teu corpo revelador. Tanta impertinência provocava suspiros exagerados, convites indecorosos, obscenidades. Tornastes companheira das minhas ambiguidades, do meu equilíbrio precário.
Sombras disformes e descompostas invadiram nossa noite de desamparo. Anoiteceu lentamente e a lua baldeava com sua luz misteriosa e triste esse quarto em desordem. Sombras disformes e decompostas surgiram de teus movimentos frenéticos. Absorvi toda essa paisagem!
Foram-se as tristezas, a solidão! Ficaram essas intimidades longamente exercitada nessa noite plena, entre entranhas e vísceras, nesse mergulho profundo! Tanta entrega, tanta errância de mãos, quanto pertencimento nessa viagem! O tempo se tornou fugaz, se tornou etéreo e amanhecemos desnudos e famintos. Nossa fome agora era outra! Não exasperava, era uma fome branda revestida de passos trôpegos e mãos vacilantes.
Errei vários caminhos até te encontrar. Com que êxtase meus ouvidos ouviam teus suspiros, teus impulsos e impaciências?! Agora amanhecia nesse quarto em desordem, nessa casa de arrepios e sortilégios! Profunda melancolia se apossou dos meus sentidos entre luzes preguiçosas nesse amanhecer...