Shmuel

Andando sobre paralelepípedos

 

O que dirão quando me virem andando por ai 

Roupas rasgadas, pele encardida

O príncipe dos mendigos!

Um filósofo! 

Não nasci para tanto pensar!

Gosto de sonhar, de olhar

De ouvir

Gosto dos sons que do passado reverberam em mim 

Gosto das cidades e das serras

Das flores e mirantes expandidos

Gosto de pássaros

Gosto dos mortos, das suas crenças 

Gosto das igrejas e dos casarões

Com seus devidos fantasmas

Gosto das ruas e das escadarias,      Viajo nas cores que sempre tendem para o azul 

O que dirão quando me virem repousando sob a marquise de uma construção tombada,          Um felizardo, sem eira nem beira 

Sonhando com vilas velhas 

e herói com ideais libertários 

Gosto de andar sobre os paralelepípedos

e imaginar os suores derramados 

para cada pedra posta neste árduo  

calçamento 

Sou assim! Esta tríplice fronteira: ausente, presente, pretérito.