Sou forma
e barro,
cumbuca aleijada
de abas tortas;
que, agora,
rosco e me esrosco,
na lembrança dela.
Sou força
e desalento.
Paramento sem festa,
dúvida de qualquer sol,
dúbio nos pensamentos !
Sou cor virada, sem tom,
que desabrocha no verão
sem flores,
sem qualquer espécie
de lado bom.
Sou amaciador de pássaros,
andador de ruas,
passageiro fugaz
de avenidas empoeiradas
de luzes sem vassalos.
Sou forma
e desamparo,
roda de passar,
gente de ver,
gosto pra provar,
vítima ocasional
da vida que passa.
Sou forma e barro,
rosco e me enrosco,
na lembrança dela,
que dorme vestida
de esperança em
algum lugar
do meu passado,
que se perdeu
no tempo
de minha vida
de lasco, perdida.
Hoje, na virada da vida,
procuro e não acho
coisas delas.
Partiu, sem sentido,
pra lugar nenhum,
lugar que nenhuma aliança
de amor alcança.
Mas, no fundo,
rosco que me enrosco,
sei que partiu,
pra terra do longe,
onde sonolentam os ouvidores
onde sonha minha vida.
E da vida, sei:
nunca mais vou
vê-la:
não tenho contratos
de sabedoria com
a paz dos santos.
Não sou mais alvenaria
do espírito,
nem corda
truncada no pescoço
dos lordes.