Antonio Luiz

Um viciado em oração

minha lucidez anda alucinada

eu padeço em constante delito

o delito é a minha condenação

não preciso doutro julgamento

nem morrer por apedrejamento

eu já fumei pedras bem piores

não queria mais precisar tanto

desaprendi meu suplicamento

e receio já não ter mais crédito

pudera, cri em deuses fugazes

voláteis, covardes e traiçoeiros

como as asas que me alugaram

asas de voos de galinhas cegas

tornei-me ateu dessas criaturas

mas não esqueci os seus cultos

estou extenuado de tanto tombo

das quedas livres sem liberdade

não parece ter fim esse abismo

já ouço algum ranger de dentes

daqui, meu orar soaria profano

rogai por mim todos os crentes

 

-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 10/5/23 --